domingo, 11 de novembro de 2012

Minha Infância

Minha infância na roça

Passei a minha infância (anos 70 a 80) no povoado de Caldeirão, Município de Uibaí, na Bahia. Lá mora os meus avós tios e primos. A casa em que eu morava era feita com pedras e foi construída pelo meu pai, lá morava meus  pais, eu e meus 14 irmãos, éramos 6 meninas e 9 meninos.
Acordávamos bem cedinho para ajudar a minha mãe nos afazeres de casa, ela gostava de ouvir rádio durante o dia, na hora do programa infantil (Tia Leninha) as nove horas da manhã, bastava se ouvir a musiquinha que eu minhas irmãs corríamos para o pé do rádio para ouvir as historias como: o gato de botas, chapeuzinho vermelho, cachinhos dourados e outras, depois era brincar até a hora do almoço e ir a escola (só ia para escola quem tivesse 7 anos completo).
Na frente da casa dos meus pais tem um campo de futebol, onde à tardinha brincávamos de bola, pega-pega, roda, macaco na calçada, macaco de asa no chão (hoje a famosa amarelinha), pular corda e de balançar no galho da quixabeira, árvore que tem ao lado do campo.
A minha casa ficava um pouco distante do centro do povoado, então a tardinha vinham minhas primas e primos para brincarmos, envolvidos na brincadeira nem percebíamos que a noite chegava, então meu pai (João), minha mãe (Auzenith) e meu tio (Ademário), já tinham chegado da roça e se encontravam na calçada descansando e colocando o papo em dia, quando percebíamos, corríamos todos para lá, pois assim que chegávamos eles começavam a contar histórias da vidada deles, contos e outras inventadas na hora, já ia me esquecendo das brincadeiras da noite, como lagarta pintada, boca de forno e a famosa cai-no-poço, escondida dos paia é claro.
Quando era época das chuvas meus pais não deixava agente brincar na chuva, pois tinham medo dos raios, quando a chuva passava íamos brincar na lama, lá tem muitos caldeirões no meio das pedreiras e lagoas, (por isso o povoado tem esse nome)  uma bem no meio da rua, então aproveitamos para ir olhar se estavam cheias, pois após passar alguns dias íamos todos para as lagoas tomar banho e aproveitamos para aprender a nadar, durante o percurso encontrávamos pessoas que alegremente iam para as roças capinarem, plantarem e olhar como estavam as plantações que já tinham feito. 
Já com nove anos meu pai chamava eu e meus irmãos para ir a roça, para ajudar a plantar e capinar e quando tinha colheita ajudávamos também, falando a verdade, brincávamos bastante no meio da roça, como era bom brincar na terra molhada e comer rapadura com farinha de borra. Quando era época das pinhas íamos com meu pai para a roça tirar pinhas para vender, era festa, pois era dia de receber nosso pagamento pelo trabalho, meu pai não era muito brincalhão, mais quando encontrava uma pinha bem grande e madura dizia "segura essa, não deixe cair no chão" segurávamos com todo o cuidado e "plaft" era uma meleca só.
Nos meses de fevereiro a março, época dos umbus, pense nuns dias bons, quando íamos pegar umbus era só diversão, pois apostávamos quem chegava primeiro no pé de umbu, quem subia primeiro e quem descia por ultimo tinha que catar os umbus do chão (pegávamos para os porcos), brincar de jogar umbu uns nos outros chegava até machucar.
No mês de maio tinha a festa da padroeira "Santa Rita de Cássia", a missa era realizada embaixo de um pé de quixaba que tem em frente da casa de minha tia Rita e de tio Otávio, hoje já falecidos, era um dia muito bom, pois tinha casamentos e batizados (fui batizada embaixo dessa árvore), depois da missa éramos convidados para irmos as cassas celebrarem os acontecimentos, como era divertido, o que eu mais gostava era de tomar Ki-suco de uva, comer lacinho de amor e cascarrão.
Em maio também começavam a arrancar mandioca, meu pai tinha tanta mandioca que dava mais de um mês de arranca, então levantávamos todos os dia bem cedo, os meninos iam com pai para a roça e as meninas iam arrumar a tralha para levar para a casa de farinha, pois começavam a raspar a mandioca as oito horas e parava ao meio dia para almoçar, agente não ia para casa, pois minha mãe ia mais cedo e trazia em uma tigela um feijão mexido com ovo frito e torresmo que era divino. Á tarde continuavam raspando a mandioca, as quatro horas o ralador chegava para  ralar a mandioca, depois as mulheres iam espremer em um pano aquela massa para separa a tapioca, meu pai fazia a farinha e nós ficávamos até tarde da noite esperando, juntavam um turma e ia brincar na frente da casa de farinha, mais de uma a um iam embora e só ficava agente, minha mãe já tinha chegado de casa com a comida e pedia que lavássemos as mãos e os pés para podermos ir comer, cansados e com frio deitávamos em um coro de boi que era colocando os sacos de farinha e por lá acabávamos dormindo e minha mãe jogava um cobertor por cima.
Quando chega o mês de junho tempo das festas juninas, esperávamos com ansiedade a noite do dia 23 para 24, pois era o dia das fogueiras, era tanta fogueira que amanhecia o dia com fogueira em pé, pois não tinha dado tempo de queimar todas, só queimava uma quando a outra tivesse prestes a cair e assim ia a noite toda. 
Nos meses de junho até setembro, época em que meu pai fazia rapadura no engenho, agente levantava as 4:30 da manhã para ir tocar os bois, e assim ia passando o dia entre trabalho e brincadeiras. 
No mês de dezembro para celebrarmos o mês do nascimento de Jesus as mulheres faziam pequenos morros de pedra dentro de casa, cobriam com papel decorado e enfeitavam com plantas, cartões de natal que recebiam dos familiares e amigos, colocavam vários bibelôs que já eram comprados para esse fim, a noite reuniam todos em uma casa para rezar em volta desse morro que chamavam de lapinha, nós as crianças acompanhavam as nossas mães, pois só iam as mulheres um ou outro homem aparecia por lá, como começava as 7 horas da noite e as vezes chegava a meia noite, acabávamos dormindo nas esteiras de palha que tinha em volta da lapinha, pois rezavam todas sentadas e cada dia na casa de quem tivesse a lapinha. E desse jeito acabava o ano e começava o outro e crianças e adultos continuavam com seus afazer e foi assim a minha infância que hoje relembrando, vejo que meus filhos não tiveram essa liberdade que eu tive, por isso agradeço a Deus por tem nascido na roça, respirando ar puro sem medo de sair a rua e com amigos que não tinham tanta maldade.
Epa... ia me esquecendo, nessa época não tinha energia no povoado, por isso tínhamos tempo para tanta brinca brincadeira. 
As fotos depois eu posto algumas, pois na minha época fotografo era raridade e dinheiro para pagar uma foto era muito difícil, vou escanear algumas depois posto.

Mª Célia